segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A solidão maltrata, faz vermos amor onde não tem
faz buscarmos em todos os cantos algo que nos tire
desse vazio
e talvez esse seja nosso erro
tentar buscar, quanto mais buscamos algo, mais distantes ficamos de conseguir
parece que a vida quer ensinar a sobrevivermos sós
para depois colocar em nosso caminho alguém que possamos compartilhar cada momento de nossas vidas.


domingo, 4 de janeiro de 2015

Meia Noite

MEIA-NOITE
Está tossindo.
Se mexe muito, acho que ele vai acordar.
Está se levantando, não sei para onde ele vai, está tudo tão escuro.
Um clique, a luz se acende e eu estou aqui desenhado na parede.
Pra onde ele vai?
Parece está tonto, sem equilíbrio. Está indo para cozinha, se dirigindo para o banheiro dos fundos. Nossa! Como ele tosse. Está tentando não fazer barulho, acho que ele não quer acordar os outros na casa.
Será que ele esqueceu que mora sozinho?
A cozinha está muito escura, estou desaparecendo com a escuridão que chega. Mas ainda posso ouvi-lo. Ele está abrindo a porta do banheiro, as dobradiças fazem um rangido que lhe arranca um arrepio, que sobe por sua espinha.
Acendeu a luz do banheiro. Bem melhor.
O que está acontecendo com ele?
Será que foi o dia árduo de trabalho?
Hum...! Talvez tenha sido a humilhação que ele sofreu de seu chefe. Ou será a sua namorada que não o liga há dias, ou pode ser seus amigos que não lembraram do seu aniversário.
Espere...
Ele está murmurando algo:
_ “Mas que merda, eu tô um lixo. Cheio de olheiras. Já não agüento mais tudo isso, que merda de vida essa minha. Se pelo menos... Ah... deixa pra lá, tanto faz! Ninguém, vai se importar mesmo.”
Ele realmente não está bem, está pegando um frasco de comprimidos, despejou dois nas mãos e os engoliu a seco. Mas o que são? Não consigo ler o rotulo.
Ele apaga a luz do banheiro, mas uma vez estou ausente.
Ele está caminhando, para onde ele vai?
Mas um clique ligou a TV, a luz da programação lhe projeta na parede ao fundo da sala. Sentou-se no sofá e agora muda os canais da TV compulsivamente. Nada parece entretê-lo.
O que houve com ele?
Não paro de me perguntar. Era um rapaz feliz, sempre sorridente. Sempre tirava uma piadinha de tudo o que os amigos falavam, empolgados com os projetos de sua banda e empenhado em seus estudos.
Mas eu deveria ter percebido que havia algo de errado com ele, quando pegou todos CDs de suas bandas favoritas, arrancou os posters das paredes, esbravejando, pegou as cartas de sua namorada, juntou tudo e ateou fogo ou naquela madruga em que acendeu a luz do banheiro e eu o vi lavando a mão, sagrando pelo corte feito ao socar o espelho da pia. As lágrimas desciam de seu rosto, mas não pareciam lágrimas de dor. Pareciam lágrimas de desespero. Mas uma vez ele chora, parece estar triste. Há dias ninguém o visita.
Sim, ele está solitário. Outro dia resmungando baixinho no escuro, e ele dizia que o médico estava louco, que ele não podia está com quadro de depressão, não ele.
Está pegando um papel e uma caneta numa escrivaninha, ao lado do sofá.
Baixou o volume da televisão e programou o time, quarenta e cinco minutos é o tempo programado. Jogou o controle em algum lugar, está escrevendo algo. Mas eu não consigo ver, não daqui detrás. Colocou algo em sua boca. O que ele está fazendo? Vou esperar.
Mas que demora. Parece que ele acabou, olhou para o relógio. É meia-noite, demorou alguns minutos para que ele ficasse totalmente quieto, estático.
O time da TV está quase chegando ao fim, marca dez segundos e regredindo. A TV desligou, o silêncio está tomando conta do lugar.
O que é isso? É um raio de sol que entra pela janela, já está amanhecendo.
A janela fica ao lado esquerdo da sala, a luz do sol que entra por ela lhe projeta ao lado direito do sofá. Agora posso vê-lo mais nitidamente, está com a cabeça decaída sobre o encosto do sofá, há um frasco perto de mim, no chão. Calmante.
Ele tomou o frasco inteiro, alguém está tocando a campainha, já são 6:30 da manhã, ele atrasado para o trabalho.
Estão chamando o seu nome na porta, conheço essa voz, É Carine, sua companheira de escritório. Mas o que ela está fazendo aqui?
Está gritando pelo nome dele, e perguntando se ele está em casa.
Ele não acorda, estranho.
Ela parou de chamar, será que desistiu?
Não, posso ouvir os seus passos dando a volta na casa. Veja. Ela está na janela, parte dela invade a sala, junto com a luz do sol. Ela está projetada bem ao meu lado. Espere um segundo.
Agora sei por que ela está aqui, ela sabia que havia algo de errado com ele. Teve um pesadelo com ele, sonhou que ele se jogava de um precipício e que mergulhava numa escuridão profunda. Por isso decidiu vir até aqui.
Ao vê-lo imóvel sobre o sofá, quebrou a janela com uma pedra e invadiu a sala.
Está tentando acordá-lo desesperadamente, mas ele não reage. Há muitos pedaços de papéis amassados jogados no chão, só agora vim perceber. Mas há um deles estirado sob a mesa de centro, com a caneta por cima. Espere. Ela deu conta do papel.
Está pegando-o agora, ela o ler. Seus olhos se enchem de lágrimas e ela de repente começa a chorar. Ao se abraçar com ele, percebo o que aconteceu. Ele suicidou-se e suas últimas palavras foram:
_ “DEIXO ESTE MUNDO NÃO POR ACHAR QUE NÃO SOU MAIS AMADO, MAS SIM POR PERCEBER QUE NÃO SEI MAIS AMAR”.
Autor: Tony Rodrigues